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A Urgência do Chamado

A Urgência do Chamado – Tony Campolo[1]

(“The Urgency of The Call”, extraído de “Urban Mission”, 1988)

Há dois mil anos atrás pregaram nosso Jesus na cruz. Há dois mil anos atrás, pregaram-no e o puseram em exposição, como fazia a tradição Romana. Há dos mil anos atrás, com sua morte, um milagre aconteceu. Como uma esponja, ele absorveu os pecados de cada um de nós. Há dois mil anos atrás, Jesus morreu na cruz. Ele que não cometeu pecado, se tornou pecado. A boa notícia é que todos aqueles que crêem e confiarem nele não serão punidos pelos seus pecados, porque na cruz ele foi punido em nosso lugar.

E não fosse isso suficiente, Deus esqueceu nossos pecados. Nossos pecados foram apagados, conforme dizem as Escrituras, enterrados nas profundezas do mar, esquecidos. Eu não sei o que você pensa, mas eu odiaria ir para o céu se Deus lembra-se de nossos pecados.

Você consegue imaginar John Kyle[2], de pé diante da cadeira do tribunal e o Senhor dizendo: “Kyle, nós estávamos esperando por você”. Eu não sei se eles têm um livro do Kyle, mas se eles abrirem esse livro, eu tenho uma boa notícia: não haverá nada das coisas podres e sujas que Kyle fez escritas no livro. Tudo foi esquecido.

E tem mais uma coisa. Além de tomar nossos pecados para si e esquecer-se sequer que nós um dia pecamos, ele também “imputou a nós a sua justiça”. Isso vem da versão King James [da Bíblia]. Eu sou um adepto da velha versão King James, e infelizmente várias das novas versões não tem palavras profundas como imputou. É uma palavra fantástica. Significa que ele nos deu o crédito de todas as coisas boas que ele fez.

Eu mal posso esperar para ir para a glória. Quando eles abrirem meu livro, eles verão no livro com o nome Tony Campolo todas as coisas boas que Jesus fez. Eu vou levar o crédito delas. Isso será imputado a mim.

Eu não desejo nenhum mal a minha esposa, mas eu gostaria que ela estivesse lá quando eu chegar, pois tenho certeza que quando eles começarem a ler todas as coisas boas que Jesus fez, ela irá dizer “você não fez tudo isso”.

E eu direi: “É o livro Dele”. E poderei dizer com alegria “portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8:1 – RSV).

Talvez você esteja pensando, “Esse é um ponto de vista teológico interessante. Mas há vários pontos de vista quanto à salvação. Há as interpretações do Budismo, do Confucionismo e do Marxismo. Como você pode ter uma mente tão limitada para dizer que a sua interpretação, o ponto de vista bíblico, o ponto de vista Cristão, é a única interpretação correta?”.

Eu estava em um avião indo da Califórnia para a Filadélfia. Sentei perto de um cara. Era um vôo especial, a uma da manhã, e ele queria conversar. “Qual é seu nome?”, me perguntou.

“Tony Campolo”, respondi.

E me perguntou “O que você faz?”.

Quando eu não quero conversar, eu digo, “Eu sou sociólogo”. E a pessoa responde, “Oh, que interessante”. Mas se eu realmente quero que eles se calem, eu digo “Oh, eu sou um pregador Batista”. Normalmente isso corta a pessoa na hora. E, como eu não queria conversar nem um pouco, eu disse, “eu sou um pregador batista”.

E o cara disse, “Sabe em que eu acredito? [eu não agüentava de ansiedade para ouvir] Eu acredito que ir para o céu é como ir para Filadélfia. Há muitos caminhos para se chegar a Filadélfia. Alguns vão de avião. Alguns vão de trem. Alguns vão de ônibus. Alguns vão de carro. Não faz a menor diferente como chegamos lá. Tudo termina no mesmo lugar”.

Eu disse “Profundo”, e fui dormir.

Quando estávamos chegando a Filadélfia, tudo estava cercado por neblina. O vendo estava soprando, a chuva batia no avião, as asas estavam sacudindo e parecia que o avião ia partir no meio. Todos estavam nervosos e se segurando. Enquanto circulávamos a neblina, eu disse para o expert em teologia a minha direita, “Ainda bem que o piloto não concorda com a sua teologia”.

“Como assim?”.

Eu respondi, “As pessoas no controle estão dando instruções para o piloto, ‘vá para o norte pelo noroeste, três graus, você está na rota, você está na rota, não saia da rota’. Ainda bem que o piloto não está dizendo ‘Há muitos caminhos para chegar ao aeroporto. Há várias aproximações possíveis. Há vários caminhos para pousar esse avião’. Ainda bem que ele está dizendo ‘Há apenas um caminho de pousar esse avião, e eu vou segui-lo’”.

Não há outro nome pelo qual nós somos salvos a não ser o nome de Jesus. Esse Jesus que morreu há dois mil anos atrás na cruz, esse Salvador que é o único caminho para nos afastar do pecado, é um Jesus ressurecto. E ele se aproxima de nós hoje. Ele vive, e está presente pessoalmente nessa sala, nessa noite. Ele está aqui. E muitas pessoas aqui precisam recebê-lo, muitas pessoas aqui precisam se render a ele.

O Jesus Cultural

Porém, frequentemente as pessoas se afastam de Jesus por não saber realmente como ele é. O primeiro capítulo de Romanos diz que “Desde a criação do mundo, as perfeições invisíveis de Deus, o seu sempiterno poder e divindade, se tornam visíveis à inteligência, por suas obras; de modo que não se podem escusar. Porque, conhecendo a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças. Pelo contrário, extraviaram-se em seus vãos pensamentos, e se lhes obscureceu o coração insensato. Pretendendo-se sábios, tornaram-se estultos. Mudaram a majestade de Deus incorruptível em representações e figuras de homem corruptível, de aves, quadrúpedes e répteis. Por isso, Deus os entregou aos desejos dos seus corações, à imundície, de modo que desonraram entre si os próprios corpos. Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram à criatura em vez do Criador, que é bendito pelos séculos.”(Rm 1:20-25)

Essa não é a descrição de uma sociedade antiga, iletrada. É a descrição da sociedade Americana. A nossa sociedade pegou Jesus e o fez a sua própria imagem. Quando ouço Jesus ser proclamado nos canais de televisão espalhados pelo país, dos púlpitos mais distantes aos mais próximos, ele é apresentado não como o Jesus bíblico, não como o Jesus descrito no livro, mas como branco, Anglo-Saxão, Republicano e Protestante. Um Jesus que encarna quem nós somos, ao invés de um Jesus que encarne o Deus Eterno, não é um Jesus que possa salvar.

Quando eu dava aula na Universidade da Pensilvânia de vez em quando um aluno meu dizia “eu não acredito em Deus”.

Nessas ocasiões, eu sempre os pedia: “descreva para mim esse Jesus no qual você não acredita; descreva para mim esse Deus no qual você não acredita”. Eles normalmente pensavam que era uma pergunta idiota. Mas eu os forçava a responder. E quando eles terminavam de me falar de como era Deus, eu os congratulava e dizia: “Vocês estão a meio caminho de se tornarem cristãos, porque a maior barreira entre confrontar e amar o Jesus verdadeiro está sendo confundida pela descrição cultural de Jesus que surgiu em nossa sociedade”.

Nós, de fato, fizemos algo terrível. Deus nos criou a Sua imagem e semelhança, mas nós decidimos retribuir o favor e criamos um deus que é a nossa imagem.

Você tem uma decisão a tomar. Qual Deus, qual Jesus, você escolhe seguir? Você escolhe seguir o Jesus descrito na Bíblia, o Jesus que morreu na cruz por nossos pecados, o Jesus que ressuscitou e está aqui hoje nessa noite? Ou você escolhe olhar para um outro Jesus, um Jesus criado pela cultura e que incorpora e reflete nossos valores?

Que carro Jesus Compraria?

Quais são as diferenças entre os dois? As diferenças são gritantes. O Jesus da Bíblia difere do Jesus da cultura naquilo que exige de você. O Jesus bíblico ordena que você venha até ele entregue a si mesmo por completo, e entregue tudo o que tem a ele. O Jesus bíblico diz, de maneira simples, “leia meu livro; leia minhas Escrituras; venha e aprenda comigo; e em cada dia da sua vida, seja como eu”. É necessário ter em nossa mente aquilo que está na mente de Jesus Cristo. Ser um seguidor do Jesus Bíblico é fazer exatamente o que o Jesus bíblico faria se o Jesus bíblico estivesse no seu lugar, e nas mesmas circunstancias que você.

Nada é mais controverso do que ser um seguidor e discípulo de Jesus. Nada é mais perigoso do que viver a vontade de Jesus no mundo contemporâneo de hoje. Em primeiro lugar, isso muda todo o estilo de vida que você leva com as suas finanças. Aquilo que você faz com o seu dinheiro vai mudar.

As pessoas me perguntam, “o que você quer dizer? Quer dizer então que se eu sou um seguidor de Jesus eu não posso sair e comprar um BMW?” Exatamente!

Eu conheço muitas pessoas que tem carros BMW. Quando eles estiverem cheios do amor de Deus, eles irão se arrepender dos seus BMW porque BMW são carros luxuosos que simbolizam concupiscência consumista, ao invés da compaixão preocupada com aqueles que sofrem no mundo.

Vamos supor que Jesus tivesse que comprar um carro, uma vez que não há mais jumentos nas vias expressas hoje em dia. Se ele tivesse $40.000 e soubesse a respeito das crianças que estão sofrendo no Haiti, que tipo de carro ele compraria? Isso não é irrelevante. É aqui que o Cristianismo precisa ser aplicado.

Você deve comprar o carro que Jesus compraria. Você tem que vestir aquilo que Jesus vestiria. Não há lugar para a concupiscência consumista. Essa cultura tem de fato condicionado você a querer mais e mais coisas que você não precisa, e enquanto você se torna um consumidor das riquezas de Deus, os famintos do mundo sofrem, os famintos do mundo morrem.

É hora de nos arrependermos de nossa opulência. Os cristãos perderam o coração de pobre. Dr. Hestenes, meu chefe, me disse ontem à noite: “você não um Cristão, no sentido completo da palavra, até que seu coração seja partido por aquelas coisas que partiam o coração de Jesus”.

Na universidade onde dou aula eu conclamei todo os nossos graduandos em sociologia a irem para a Republica Dominicana ou para o Haiti em intercâmbios estudantis durante o mês de janeiro. Eu os quero lá. Na primeira vez que levei um grupo de estudantes para o Haiti nós ficamos em uma casa suja, imunda, no meio de uma favela.

No início da manhã, o padre da cidade nos convidou a andar com ele. Havia uma epidemia de gripe. Eu nunca tinha visto nada como aquilo. Nos Estados Unidos ou no Canadá quando uma pessoa pega uma gripe, ela deixa de ir à escola. Mas quando as pessoas estão em um estado grave de má nutrição e contraem uma gripe, elas morrem. Enquanto andávamos pelas ruas enlameadas da favela, mães saiam de seus barracos naquela manhã carregando os corpos das crianças que morreram durante a noite.

Nós fomos para os arredores da cidade e cavamos uma cova. E nessa cova nós colocamos essas crianças mortas. Nós olhávamos para aquela cova enquanto o padre rezava sua oração e as mulheres choravam como apenas elas podem chorar na República Dominicana.

Eu observei um dos meus alunos que era um jogador de basquete. Ele sempre foi durão. Mas ele não parecia durão naquele dia. Lagrimas rolavam abaixo nas suas bochechas. Seus punhos estavam cerrados. Seu queixo tremia. E eu sabia, eu sabia que seu coração havia sido partido pelas coisas que partiram o coração de Jesus. Bem aventurados são aqueles que choram.

Tony, você está sugerindo que não se pode ser rico e ser cristão ao mesmo tempo? Não fui eu o cara que falou que é mais difícil pessoas ricas entrarem no reino dos céus do que um camelo passar pelo buraco de uma agulha. Foi outra pessoa.

Tony, você vai insultar as pessoas ricas. Você está cheio da grana? E você consegue ver uma pessoa desesperada e continuar com suas riquezas enquanto essas pessoas sofrem e morrem? Se esse é o caso, I João 3:17-18 pergunta “como pode estar nele o amor de Deus?” É isso que eu estou perguntando.

O Jesus perigoso

Quando me tornei cristão, a Guerra da Coréia estava acontecendo. Foi uma experiência incrível porque eu não sabia se deveria aceitar ou não o serviço militar. Então eu conversei com um coronel, e discutimos por um tempo.

Ele me disse: “qual é o seu problema?”.

“Meu problema é que eu quero fazer aquilo que Jesus faria”.

“Você conseguiria entrar em um avião, voar sobre uma vila inimiga e lançar bombas?”.

Eu respondi: “Eu conseguiria entrar no avião. Eu conseguiria voar sobre a vila inimiga. Porém, no momento em que eu estive pronto para soltar a bomba eu teria que perguntar, ‘Jesus, se você estivesse em meu lugar, você lançaria as bombas?’”.

E eu me lembro do coronel gritando comigo, “Essa é a coisa mais estúpida que eu já ouvi. Todo mundo sabe que Jesus não lançaria as bombas!” Aquele coronel provavelmente conhecia mais de Jesus do que a maioria dos pregadores batistas que eu conheço.

Tony, isso está começando a ficar complicado. O que você está falando está começando a ficar politicamente perigoso. Mas quando foi que ser cristão deixou de ser politicamente perigoso? Nós estamos buscando por um novo grupo de cristãos que irá até o Sermão no Monte e irá viver aquilo de maneira radical. O mundo precisa urgentemente de pessoas radicalmente comprometidas com o Jesus bíblico.

O Jesus cultural vai criar uma igreja muito diferente daquela do Jesus bíblico. A igreja gerada pela divindade cultural que nós inventamos a partir de nossa imaginação protestante é um presidente honorário de uma instituição estática. O Jesus bíblico é o líder de um movimento revolucionário destinado a desafiar esse mundo e transforma-lo no mundo que Deus inicialmente desejou que existisse.

Se você se envolver com esse Jesus você se tornará uma pessoa perigosa. Se você for enviado a África do Sul, você não irá tolerar a injustiça da opressão que existe naquele lugar. Você fará questionamentos quando nossos exércitos marcharem para a guerra em lugares como a Nicarágua[3]. Você se tornará uma pessoa perigosa porque essa igreja é comprometida com a justiça.

Eu estou procurando por uma igreja que envie pessoas a todas as avenidas da vida – nos negócios, nas artes, no setor de educação, e no setor de entretenimento – para ser o fermento revolucionário que transformará o mundo. A missão da igreja não é se preparar para o céu. É proclamar o Reino de Deus no meio desse mundo. O reino desse mundo irá se transformar no Reino do nosso Deus.

Quando eu leio sobre a vida de John Wesley e ouço sobre os grandes avivamentos Wesleyanos (que foram incidentalmente iniciados por estudantes), eu percebo que o cristianismo pode ser um instrumento de transformação não violenta em um mundo que precisa de mudança. Quando eu leio as histórias de Charles Finney, o grande reavivalista dos 1800, eu entendo que Jesus pode ser uma presença inspiradora que transforme o mundo hoje como transformou naquela época. O movimento antiescravista, o movimento abolicionista, o movimento feminista nasceram todos dos reavivamentos de Charles Finney.

Este é um momento histórico porque Deus quer levantar uma geração de homens e mulheres que irão adentrar todos os setores da sociedade como agentes de mudança, transformando o mundo no tipo de mundo que Ele quer que seja.

Será isso sempre não-violento? Sim, eu acredito que sim. Eu acredito que nós precisamos nos levantar pela verdade e proclamar a profética palavra de Deus.

Era isso que eu amava em Martin Luther King. Ele vinha marchando de Selma e se encontrava com aquele velho Bull Connors. E lá estavam eles. Bull Connors tinha suas armas. Bull Connors tinha seus cassetetes. Bull Connors tinha tropas. E King e seus seguidores se ajoelhavam e oravam. E não há nada mais vulnerável do que uma pessoa ajoelhada orando. E depois de contar até dez, as tropas de Connors marchavam e batiam nas cabeças dos seguidores de King e os viam espancados, arrebentados, sangrando por toda aquela avenida. Eu sabia – quando assistia pela televisão – que Deus acabara de vencer, que o movimento por direitos civis iria vencer.

Eu sei que você deve estar se perguntando, “como você pode achar que eles venceram? Eles levaram pancadas na cabeça. Eles foram pisoteados. Eles foram chutados. Eles foram mortos”. Você está certo. Mas nós Cristãos temos um terrível hábito de nos levantarmos de novo.

O Amor pelo Poder

Eu quero uma igreja que transforme o mundo não a partir de uma posição de poder, mas a partir de uma posição de amor e comprometimento. Eu me assusto com os cristãos de hoje porque eles estão em busca de poder. Nós pensamos que se tivermos poder suficiente, se tivermos bastante gente no poder, se tomarmos os Estados Unidos, então poderemos forçar a América a ser justa e correta. Por que será que Jesus nunca pensou nisso? Eu acredito que nós temos que mudar o mundo com as armas da igreja, e não com as armas do mundo. Nós temos outro estilo, outros caminhos. É amar ser servo. É se entregando a si mesmo, se mexendo, se preocupando, amando, redimindo, não destruindo.

Eu consigo entender o poder porque todos amam o poder. Eu amo o poder. Um dia quando eu voltava da Universidade da Pensilvânia onde eu dava aula, eu vinha pela via expressa e quando cruzei a Avenida Cityline, eu ouvi um barulho. Era um pneu furado. Então eu encostei e desliguei o carro.

Enquanto eu trocava o pneu eu ouvia o rádio e começou dar notícias do helicóptero do transito. “Senhoras e senhores, vocês não vão chegar em casa hoje. Está tudo parado na via expressa até a Avenida Montgomery. Transito parado nas duas direções da Citylane. A cidade da Filadélfia está praticamente parada”.

E eu comecei a me perguntar, “o que será que fez a cidade da Filadélfia parar? O que será que paralisou a bela cidade do amor fraternal? Por que a cidade de Frank Rizzo de repente parou?”.

Então o repórter disse, “há um carro marrom parado na pista direita da Avenida Cityline”. Era eu! Era o meu carro! O pequeno Tony Campolo paralisou a cidade da Filadélfia. Mães não conseguem chegar em casa. Crianças choram chamando por seus pais. Negócios deixaram de ser fechados. Namorados não estão se encontrando e eu estou sendo a causa disso!

Qual de nós é imune a sedução do poder? Quem é que não se encanta por ela? Porém o Jesus bíblico não está no poder. O Jesus bíblico abriu mão do poder. Ele poderia ter forçado o mundo inteiro a justiça e retidão, não poderia? Ao invés disso, ele vem e enche as pessoas com seu Espírito e os chama a viver em amor sacrificial neste mundo.

Um Povo Clandestino

Se eu fui um pouco controverso até aqui, serei agora muito controverso. Eu tenho um amigo no Brooklyn que é pastor. Ele tem uma igreja em uma comunidade decadente. Sempre que quero uma boa história eu ligo para ele, porque ele sempre as tem, mesmo que ele não saiba disso. Eu roubo todo o material dele.

“O que aconteceu na última terça-feira?”, perguntei.

“Ah! Foi muito estranho”, ele disse. “Teve um funeral”.

Perceba que ele é um cara que ganha tão pouco que tem que fazer alguns funerais para ganhar alguma grana e se manter. Ele disse que a funerária local ligou para ele com um funeral que ninguém queria fazer porque o sujeito morreu de AIDS. Então ele aceitou o fazer o funeral.

“E como foi?”.

“Quando cheguei lá, foi muito estranho. Havia uns vinte cinco ou trinta homossexuais sentados. Eles estavam sentados e paralisados, com as mãos segurando nas cadeiras. Seus olhos estavam vidrados olhando para a frente. Eles não olhavam nem para a direita nem para a esquerda. Eu li uma parte das Escrituras. E fiz uma oração. Quando o funeral chegou ao fim, eu sai, entrei no carro e dirigi até o cemitério para o enterro.

“E fiquei lá, na beira da cova enquanto o caixão entrava no buraco. Mais uma vez eu li uma parte das Escrituras. Mais uma vez eu fiz uma oração. E quando eu já tinha dado a benção apostólica e tinha me virado para ir embora eu percebi que nenhum dos rapazes homossexuais se mexia. Eu me virei de volta e perguntei, ‘há mais alguma coisa que eu possa fazer?”.

“E um deles respondeu: ‘Sim, há mais uma coisa que você pode fazer. Eu não vou há igreja há anos. Na verdade eu estava ansioso pelo funeral, pois eu amo ouvir a leitura do Salmo 23. Pastor, você poderia ler o Salmo 23?’ Então eu li o Salmo 23”.

“Quando terminei um outro homem falou, ‘há uma passagem no livro de Romanos, que diz que nada pode nos separar do amor de Deus. Você conhece essa passagem?’ E eu li para aqueles homens homossexuais ‘nada pode nos separar do amor de Deus. Nem altura nem profundidade, nem coisas do presente ou do porvir, nem poderes, nem principados, nada – nada pode nos separar você do amor de Deus, nada pode separar você do amor de Deus.’ E fiquei ali perto da cova lendo para aqueles rapazes homossexuais passagens das Escrituras que eles pediam, durante quase uma hora”.

Quando eu ouvi isso, eu chorei. Eu chorei porque sabia que esses homens estavam sedentos pela Palavra de Deus, mas jamais poderiam colocar um pé dentro de uma igreja porque acreditavam que a igreja os desprezava. E eles estavam certos.

Estaria eu aprovando o estilo de vida homossexual? Com certeza não! Tudo que estou dizendo é, quando iremos começar a amar aquelas pessoas que ninguém mais ama?

Alguém me perguntou, “Se você fosse o pastor de uma grande igreja no centro de uma cidade grande, o que você faria?” Me perguntaram isso em uma conferencia de imprensa ontem. Eu respondi simplesmente, que “pediria a igreja para hipotecar o prédio, pegar o dinheiro e construir um hospital beneficente para vítima da AIDS porque acredito que nós precisamos dizer alguma coisa a comunidade homossexual”.

Há pessoas latinas que falam espanhol, pessoas negras e pessoas italianas no centro da cidade. Estou aqui para te dizer que há aproximadamente de 9 a 10 milhões de homossexuais, e que a igreja de Jesus Cristo os forçou a se tornarem um povo clandestino. Já chegou o tempo em que devemos, sem aprovar o pecado, amar as pessoas.

Eu estou procurando toda uma nova empreitada missionária. Estou procurando cristãos que irão organizar hospitais beneficentes cristãos para vítimas de AIDS, por jovens homens e mulheres que se tornarão médicos e enfermeiros para cuidar dessas pessoas que alguns de nossos médicos mais seculares não querem tocar. Está na hora dos cristãos criarem uma igreja ousada – uma igreja que ousa amar.

Audaciosamente Indo Onde Nenhum Homem Jamais Esteve

Por fim, o Jesus cultural apenas nos pede para sermos reverentes e religiosos. Eu não estou chamando você a ser religioso. Eu estou chamando você a pegar a sua vida e dizer hoje a noite, “Jesus, eu te amo. Eu te amo tanto, eu quero você tome minha vida e me use em alguma coisa especial. Eu quero que você me envie para aqueles lugares onde você quer que eu vá. Estou aqui. Me leve. Se é na África, que seja. Se é na Filadélfia, que seja. Se é Buenos Aires, que seja. Se é Calcutá, que seja. Eu irei onde você quiser que eu vá, Senhor. Eu sou seu.”

O Jesus bíblico quer empregar você no lugar onde ele poderá usá-lo no seu nível ótimo. Por que tem que ser além mar? Porque a América já está lotada. Nós formamos tantas pessoas nas universidades por aqui hoje em dia que nossa sociedade não consegue empregar a todos. Você não tem que ir trabalhar na General Motors. Ela vai sobreviver sem você. Você também não tem que ser um médico nos Estados Unidos, eles já têm médicos suficientes. E você certamente não precisa somar-se a multidão de advogados na América.

O que eu amo em “Star Trek” é a nave Enterprise sumindo na escuridão e a voz dizendo, “audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve”. Eu estou aqui para dizer pra você ir onde ninguém foi antes, fazer o que ninguém fez, ser o que ninguém jamais foi. Ser missionário é difícil. Mas a maioria das alternativas é bem fácil. Se você quer ser um Yuppie, tudo bem. Só é chato, apenas isso. O que eles fazem? Trabalham a semana inteira, chegam em casa, entram na Jacuzzi e falam uns aos outros das suas maravilhas.

Na última cena de A Morte do Caixeiro Viajante quando eles descem Willie Lowman na cova, a esposa dele diz, “Bif, Bif, por que ele fez isso? Por que ele se matou? Por que ele cometeu suicídio? Por que ele fez isso, Bif?”. E Bif responde: “Ah, que pena mãe. Ah, que pena, ele tinha os sonhos errados. Ele tinha os sonhos errados”. Se há algo que se possa dizer dessa geração, é que vocês todos têm os sonhos errados.

Se você quer ser um professor, porque ficar em um lugar onde não precisam de você? Por que não permitir que Deus o leve até o lugar onde você é absolutamente essencial? Se você quer ser um médico, por que não ir onde você será desesperadamente essencial? Por que alguém gostaria de ser um médico num lugar onde nem metade de seus pacientes está verdadeiramente doente, quando você pode ir para um lugar onde a vida e a morte de centenas de pessoas vai estar dependendo de você diariamente?

Eu sou como o velho Oswald Smith. Eu não entendo porque alguém tem que ouvir o evangelho duas vezes antes que todos tenham a chance de ouvi-lo pela primeira vez. Entregue sua vida a Jesus. As necessidades são imensas. Se você acha que não pode ajudar, você está louco.

Uma vez fui chamado para ser conselheiro em um acampamento cristão de juniores. Todos deveriam ser conselheiros em um acampamento de juniores pelo menos uma vez. Se há algum Católico aqui, vocês estão certos, existe um purgatório. Nós tentamos de tudo para explicar a essas crianças sobre o que era o evangelho. Mas nada funcionou. O conceito de se divertir dos juniores é azucrinar os outros. E nesse caso, naquele acampamento, havia um garoto com paralisia cerebral, e eles foram mexer com ele.

Eles encarnaram no pequeno Billy. Como eles encarnaram nele. Conforme ele andava com seu corpo descordenado, eles se punham em fila e imitavam os movimentos grotescos do garoto. Eu fiquei olhando para ele um dia enquanto ele veio até mim e perguntou na sua voz devagar e arrastada, “Onde fica a loja de artesanato?”. E os garotos responderam imitando a sua voz e seus movimentos, “é para lá Billy”. E riram dele. Foi revoltante.

Contudo meu furor chegou ao limiar máximo quando na quinta-feira pela manhã, quando foi o dia do quarto do Billy fazer o devocional. Eles indicaram o Billy para falar. E enquanto ele se arrastava no caminho até o púlpito, era possível ouvir as risadas rolando por toda a platéia. E levou quase cinco minutos para o pequeno Billy conseguir dizer “Jesus…ama…a mim….e…eu….amo…Jesus”. Quando ele terminou, houve um silencio mortal. Eu olhei para trás e havia juniores chorando por todo o lugar. Um reavivamento havia acontecido.

Conforme eu viajo pelo mundo, encontro missionários e pregadores em todo canto que dizem, “lembra de mim? Eu me converti naquele acampamento de juniores”. Nós havíamos tentado de tudo. Nós trouxemos até jogadores de baseball que passaram a acertar mais a bola depois que começaram a orar. Mas no fim, Deus resolveu não usar as celebridades. Ele escolheu um garoto com paralisia cerebral para quebrantar os espíritos da desdenha. Ele é esse tipo de Deus.

Entregue sua vida a Jesus não importa como você seja e não importa o que você pode ou não fazer. Ele quer ter você. Ele quer preencher você. E quer usá-lo no trabalho do Reino.

[1] Tony Campolo, autor, professor e evangelista, catedrático do departamento de sociologia e ministro da juventude do Eastern College.

[2] Kyle foi o Diretor do congresso missionário de Urbana em 1987, local onde em que Campolo apresentou este texto [nota do tradutor].

[3] É bem provável que numa atualização desta pregação Campolo citaria os casos do Iraque e do Afeganistão [nota do tradutor].

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